Treta 2024: Assistindo a competição
A palavra comunidade é a parte fundamental da sigla FGC, sem dúvida, e sinto que o Treta é muito focado nisso: em aproximar membros de um grupo separados pelas distâncias continentais brasileiras. Mas, o que me atrai mesmo, são as lutas, e é isso que eu queria ver nesse evento. Se você acompanha o nosso podcast principal, o Papo de NPC, já deve saber disso, mas eu sou um grande fã de automobilismo. Adoro ver carros e motos de altíssima tecnologia disputando um limitadíssimo terreno por distâncias abaixo de décimos de segundo. Pra mim, os pilotos são como super heróis: canhões de vidro, dominando as armas mais potentes, protegidos apenas pelas mais frágeis armaduras, desafiando os limites da física e do físico, transpirando adrenalina enquanto se equilibram entre a vida e a morte... Mas, mesmo com essa descrição tão circense, esses esportes tem um problema bem sério, tão sério que eventualmente vai leva-los a uma morte lenta: eles demoram muito pra entregar satisfação ao seus espectadores.
Você que não é fã de corridas, já concluiu antes de terminar a leitura do parágrafo anterior: "Corrida é muito chato." E eu concordo com você, é chato mesmo. A Fórmula 1 tenta se vender como uma categoria emocionante, mas a dura verdade é que, das quase duas horas de competição por corrida, poucos são os minutos realmente interessantes. Não é uma regra, mas na maioria das vezes a melhor engenharia vence por largas margens, tão largas que me fazem questionar se tudo aquilo realmente tem algum propósito que não seja lavar dinheiro ou disfarçar empresas petrolíferas e tabagistas de companhias tecnológicas descoladas. Na MotoGP a batalha é bem melhor, especialmente nas categorias de base, onde a disputa é tão intensa, que pra um espectador iniciante, chega a ser desorientadora, especialmente durante a constante movimentação nas posições de liderança, onde chega a ocorrer contato físico entre os motociclistas. E as corridas são mais curtas, o que torna a dose mais fácil de engolir... Ainda assim, é uma loteria com um sorteio que dura 45 minutos, em que nem se tem certeza se algum número será sorteado.
Já os jogos de luta sempre entregam entretenimento, rapidamente, intensamente e consistentemente. Nas 2 ou 3 horas que dura um top 8, estão garantidas no mínimo 20 lutas diferentes, com resultados definidos, e que trazem consequências imediatas, com chances iguais de vitória ou eliminação. O jogador invicto sempre tem que mostrar porque é o favorito na grande final, mas seu adversário pode provar ser ainda melhor ao vencer por um reset. Não existem margens o suficiente pra garantir a vitória de ninguém.
E é por isso que frequentemente uma luta entre jogadores iniciantes em uma bracket de comunidade entrega muito mais emoção do que corridas de automobilismo do mais alto nível. Quando se aprende a gostar de jogos de luta, não dá mais pra se contentar com uma ultrapassagem a cada 30 minutos, que, pra piorar, na maior parte das vezes, não acontece nem com os carros na pista. Prefiro ver Justin Wong jogando Pedra, papel e tesoura, é bem mais emocionante. E eu nem estou brincando: aconteceu na EVO 2024 e foi épico! Os jogos de luta me levaram a essa conclusão organicamente, e, por mais que eu me esforce, hoje esse fã de automobilismo tem muita dificuldade em assistir qualquer corrida por mais de 10 minutos.
E era pra ver toda essa intensidade ao vivo que eu fui ao Treta 2024! Tive minhas expectativas atendidas? Na maior parte, sim. Os vários telões do evento permitiram assistir as lutas da arquibancada. Todas as 3 arenas tinham cada um seu próprio, e apenas o dos arena fighters eu não acompanhei de perto. Havia momentos em que, no telão principal, a imagem era dividida em 2, mostrando cada metade um jogo em andamento, dando preferência para o áudio da partida mais avançada na respectiva bracket. Porém, no telão dos jogos retro, a partir de um certo momento, deixaram de atualizar o campo de etapa da bracket, o que tornou difícil acompanhar o andamento do campeonato. No momento da Grande Final de SFA2, eu não tinha certeza se estavam mesmo naquela etapa, mas certamente sabia que não estavam nas pools.
O som era bom em todas os espaços, mas se sobressaía o do palco central sobre o dos outros, sem surpresas, pois ele tinha o equipamento mais potente entre eles. Dava pra ouvir bem a narração das lutas e a voz do apresentador na hora das premiações. Durante o top 8 de MK e KOFXV, estava tudo bem, mas a partir das finais de GGST, fiquei com a impressão de que o som do jogo sumiu, o que quebrou um pouco a imersão. Tentei ouvir o áudio da partida pela transmissão do evento na Twitch, mas a falta de sincronia invalidou a solução. Gostaria de acreditar que o som foi retirado por alguma razão técnica que eu desconheço, mas eu duvido bastante dessa hipótese.
A cada dia que passa eu me impressiono mais com a ótima qualidade dos narradores brasileiros, mas havia uma troca constante de casters durante as lutas, o que acabava me tirando um pouco do momento. Eu sei que o esforço comunitário do evento se estende á narração, quando até competidores se colocam nessa posição pra não deixar o espaço vazio, mas não deixa de ser um aspecto que pode melhorar. Talentos pra assumir esse posto eu sei que a nós temos!
Mas de nada adiantaria uma estrutura perfeita, se os competidores não entregassem combates épicos. E, felizmente, entregaram! Não pude acompanhar as finais de Tekken 8, porque foram no sábado à noite, quando eu tinha um compromisso com esse podcast. Mas no domingo pude acompanhar o top 8 de todos os jogos principais do dia.
O jogo feio, conhecido popularmente como The King of Fighters XV, teve seu campeão no veterano Kleber Yagami, que venceu Mobby por 3-0. O mais alto respeito que tenho por KOF não consegue superar o seu visual monótono, então nessa hora minha atenção se dispersou.
Guilty Gear Strive estava muito disputado, e foi muito legal acompanhar a escalada dos jogadores locais Sharko Arrombardo e Discord. Sharko usando Millia perdeu pra Tenshi e sua I-no na winners final, mas voltou a encontrá-lo na grand final. Ainda que lutando bravamente, não conseguiu superá-lo, perdendo de 3-1.
Street Fighter 6 fechou a noite, e foi bem especial pra mim poder ver jogadores de nível CPT ao vivo. Lá estavam Namikaze, Juninho-RAZ e o jogador mais badalado do Brasil na atualidade, Zanguief Bolado. Também foi lá que conheci Kyuki, e reconheci outros jogadores super talentosos, como NotPedro e HKDash. Ainda que Bolado tenha ficado na losers semi, suas lutas foram incríveis, e dali uns dias ele faria história ao chegar ao top 8 da UFA 2024 na França pela winners. Ele foi eliminado por Dragon_Legend, que chegou à Grand Final para enfrentar o DJ de Namikaze. Dragon_Legend começou a luta de M. Bison, mas trocou pra Rashid no final, o que não impediu sua convincente derrota por 3-0.
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